sábado, 18 de fevereiro de 2023

 Não disse nada. Não te disse nada. Não saberia o que dizer mesmo que pensasse em dizer. Deixei que o silêncio falasse por nós, afinal conhece-nos tão bem. Fiquei com a minha mão na tua, embalei o silêncio, que o nó na garganta não desatava, com festinhas, e aqueles beijos pequeninos que sempre me deste desde pequena e que agora dedicavas à minha filha… beijos de passarinho que ela diz que são teus, e não admite imitações. Dei-tos por ela e por mim, e pouco depois adormeceste. Fiquei ali contigo, assim, até temer que as minhas lágrimas te perturbassem a paz e os soluços que tentava amarrar, te sacudissem do sono de que já não te vi acordar mais (o para sempre é tão esmagador…). Não sei quanto tempo passámos ali, passámos uma vida, toda a minha vida. Foi sempre em silêncio que me ensinaste, me formaste, me fizeste crescer. Me mostraste o que devia ver. É em silêncio que escrevo. É em silêncio que se ama, quem disser o contrário colecciona ruídos. O meu consolo é a tua paz, o poderes finalmente não ter de lutar. E que aí onde estiveres, neste nosso silêncio, eu continue a sentir a ternura dos beijos que que me deste quando por ti os der à tua neta.

Não disse nada, não te disse nada. Somos tão pequeninos, a morte é tão grande.

8 comentários:

  1. Somos grandes. a morte? Depende da crença de cada um. Mas se alguém mora no teu coração, está bem lembrado, mimado e é infinito. Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Enquanto forem lembrados, nas pequenas e nas grandes coisas, não desaparecem, é nisso que acredito.
      Abraço e um beijo

      Eliminar
  2. Tão verdade o que dizes :" Somos tão pequeninos e a morte é tão grande"
    E eu não sei de palavras que minimizem a tua dor, querida Vi. Então, é em silêncio e com todo o carinho que te abraço
    nanda

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O para sempre é tão esmagador que asfixia. Não há palavras, há silêncios e gestos, presenças mesmo que ao longe.
      Abraço apertado, Nanda

      Eliminar
  3. Sim...somos tão pequeninos perante esta dor...mas são os beijos ternurentos e pequeninos que nos vão dar força para que possamos continuar a lembrar e a amar no nosso silêncio...Beijo Olvido

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É assim que me sinto, pequenina e agora mais só, perante a vida e tudo o que ela traz com as pequenas e grandes mortes que nos vai servindo. Estou rodeada, não sei como, de pessoas extraordinárias que me alimentam de ternuras e carinho, e por isso estou imensamente agradecida.
      Beijo para ti

      Eliminar