domingo, 26 de fevereiro de 2023
sábado, 18 de fevereiro de 2023
Não disse nada. Não te disse nada. Não saberia o que dizer mesmo que pensasse em dizer. Deixei que o silêncio falasse por nós, afinal conhece-nos tão bem. Fiquei com a minha mão na tua, embalei o silêncio, que o nó na garganta não desatava, com festinhas, e aqueles beijos pequeninos que sempre me deste desde pequena e que agora dedicavas à minha filha… beijos de passarinho que ela diz que são teus, e não admite imitações. Dei-tos por ela e por mim, e pouco depois adormeceste. Fiquei ali contigo, assim, até temer que as minhas lágrimas te perturbassem a paz e os soluços que tentava amarrar, te sacudissem do sono de que já não te vi acordar mais (o para sempre é tão esmagador…). Não sei quanto tempo passámos ali, passámos uma vida, toda a minha vida. Foi sempre em silêncio que me ensinaste, me formaste, me fizeste crescer. Me mostraste o que devia ver. É em silêncio que escrevo. É em silêncio que se ama, quem disser o contrário colecciona ruídos. O meu consolo é a tua paz, o poderes finalmente não ter de lutar. E que aí onde estiveres, neste nosso silêncio, eu continue a sentir a ternura dos beijos que que me deste quando por ti os der à tua neta.
Não disse nada, não te disse nada. Somos tão pequeninos, a morte é tão grande.