Baixo o ecrã e levanto os olhos. Largo as distracções, os faz tempo sem tempo, e subo à essência num mergulho atabalhoado que não sabe se é pretendido. Acendo um cigarro, olho o candeeiro costumeiro de luz amarelada… não que se julgue algum sol, não, talvez a luz que tinha apenas tenha desbotado com os dias, com as noites, que se cansou a iluminar. Mas lá está, por trás dos braços esqueléticos e despidos das árvores, mas não se esconde, apenas não se exibe. Não quer, não precisa. E não fala, pretende ouvir. Até o que só se ouve vendo. Há coisas que se vêem melhor através da nudez, através duns braços despojados de vida pungente, pelas frestas gastas da fraqueza, longe da cor, dos enfeites, das distracções. Mas é preciso olhar com intenção de ver. A essência não se olha, vê-se. Não se procura, sente-se. Como o momento, que se distingue tão claramente dum qualquer instante, precisamente na espontaneidade de alguma coisa que não se sabe descrever.
Volto ao ecrã. Tento descrever o momento, a metamorfose de um instante. E falho, sei que sim.
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