Também há os que nunca nascem, parece que nunca chegam a nascer, a abrir os olhos, a espreguiçar o calor do sangue, são os ante-projectos eternamente adormecidos em papel pardo, que um dia aparecem esquecidos numa gaveta fechada vezes demais.
E há os que nascem, acordam, aprendem e crescem para a poesia, começam a cumprimentá-la nas mais pequenas coisas com um sorriso cúmplice, com um olhar atento que acende músicas por dentro do silêncio, por dentro dum olhar que por instantes brilha. Passam a viver com poesia. Alguns até gostam, deliciam-se, lambuzam-se e lambem os dedos ao ler alguma. Mas nem sempre. Nem sempre sao as palavras a fazer poesia, é sempre o que as palavras - alguma coisa, qualquer coisa - nos despertam, nos elevam, nos mergulham e raptam para sítios onde não se entra sem poesia. A poesia é esse bilhete de entrada que algumas almas guardam.