quarta-feira, 29 de junho de 2016


Eu não era feia. Há quatro anos eu não era assim tão feia. Estive a rever as fotos de Paris. Acho que não estava tão infeliz, acho que ainda tinha esperança em qualquer coisa, acho que ainda acreditava no amor, mesmo que me lembre que estive tão triste enquanto lá estive, lembro-me das mensagens que ainda troquei em Lisboa antes de ir, lembro-me do esforço de afastar a tristeza lá, de em cada sítio pensar se um dia poderia estar ali com ele, ou em qualquer lugar, assim, a passear. Agora olho-me ao espelho e sinto-me mesmo feia, vejo-me feia, e não são só os quatro anos mais velha, é o estar infeliz, sem luz, sem qualquer esperança na vida ou no que me irá trazer. Lembro-me que o meu tio me deu dinheiro para levar, para gastar lá, que não o gastei, paguei a viagem e guardei o resto, comi sandes e gostei. Hoje não tenho o meu tio, não o oiço, não o pico, não me põe as vezes os nervos em franja. Não tenho o meu irmão que me dava abraços de aniversário como nunca mais ninguém me vai dar e ainda hoje me lembrei disso por um amigo dele fazer anos. A vida em quatro anos levou-me muita coisa, não trouxe nada que eu queira realmente. Já não tenho luz, nem os olhos brilham, nem a alma resplandece o que tinha dentro. Porque tinha coisas boas lá dentro, inocentes e doces. Estou terrivelmente feia, sinto-me vazia, sem graça, sem nada. Sinto-me pior que sozinha sinto-me sem sentido e sem sentidos, parece que não sinto nada que me faça sentir viva. Que me faça sentir valer a pena. Se calhar fui eu que morri. E há quatro anos não era tão feia assim, ainda tinha vida. Tinha vida no olhar, nas veias, na alma, no andar. Agora sinto que não tenho nada. Que olham para mim e vêem só que sou feia, apagada, sem alma. Como é que eu era antes disto tudo? Quem é que eu era antes de me nascer o amor e de mo ferirem de agonia de todas as maneiras? Para onde foi esse ser? Morreu em agonia? Como, se nada no seu lugar nasceu, foram só mortes, grandes e pequenas mortes numa agonia constante, numa angústia contínua... Mas se cada fim é um começo, onde estão os meus começos depois de tantos fins? Onde? Onde estou eu que me vejo mais em fotografias com quatro anos do que ao espelho? Onde morreu o tempo que me secou as veias, a alma, o coração? Se me morreu o tempo, num fim sem recomeço, porque estou aqui? Para quê?

3 comentários:

  1. ..."agora sinto que não tenho nada..."Na verdade, acendeste a tua luz interior e o que vês dentro de ti é pó e teias de aranha. Este é o momento exacto para tomar uma atitude e tratar de arrumar, limpar e renovar. A vida trás e leva... mas a poço e pouco vais resplandescer.
    :)
    Nanda

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  2. Não é só bláblá...eu fiz isso e funcionou. Agora quero ver-te brilhar
    :)
    Muitos beijinhos e um grande abraço, minha querida amiga!!!!
    (essa varanda parece a minha!!!)

    Nanda

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  3. :)
    A minha varanda anda a ficar gira... mesmo! Ando numa de bricolage e flores... um dia destes ponho aqui uma foto... porque esta, infelizmente (pelo que parece pelo menos), não sou eu..)
    Sim, é isso acho que estou no ponto de mudar de fase, mas ainda custa e custa olhar para trás e ver o que já não sou e ter medo de perder as coisas boas que descobri que sabia aproveitar... é uma sensação estranha, Nanda. Mas ando por aqui a tentar encontrar-me no meio do que fui à procura do que serei...
    beijo grande,
    Vi

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