[Casa do Rio Vez, já que há quem goste de seguir as sugestões daqui, assim está facilitado, escusam de andar a procurar e procurar, e eu agradeço]
Trabalhei três dias desta semana, e acordo hoje com uma dor de cabeça monstra, daquelas dores de descompressão de sábado. Esta empresa está-me a tirar anos e a roubar-me vontades todos os dias. Estou cansada de remar, mesmo sem esperar nada, só talvez algum reconhecimento do esforço, da dedicação, da intensidade que ponho em tudo e me sai das entranhas. Estou danadinha para que me despeçam, ainda que não faça nada para isso, por orgulho talvez, ou pura estupidez, continuo a dar tudo o que tenho. Mas parece que tenho pouco ou nada para esta gente com quem trabalho. Ouvem pouco ou nada do que digo, preferem ouvir-se a si mesmos, mesmo que não percebam a actividade (onde caíram quase de pára-quedas), e evitar confrontos com outros, dá trabalho e chatice e no fim do mês ganham o mesmo... para quê, né? E não viesse assim uma crise daquelas, com caprichos para me assustar, e obrigar a pensar racionalmente e com lucidez, e talvez fosse eu, pelo meu pé, a manda-los à m****@, ou então é só medo de ficar com demasiado tempo entre mãos e demais para pensar... E é isto, uma semana volvida sobre o dia de chegada a este sítio maravilhoso, já estou assim... com a cabeça a estalar e sem vontade de nada, só talvez fugir. Outra vez. Para qualquer lado. Para isso sirvo, para descobrir sítios giros e calar-me ao silencio de vida que estes dias trazem. Lembrei-me disso, dessa expressão em oposição ao silêncio de morte, fechado e completo, acabado. O silêncio de vida deixa-nos ouvirmo-nos, olhar para fora e sentir tudo por dentro. O som da agua que corre, umas vezes com a força da pressa de querer chegar ou até de fugir de algo que assusta, e essa força me assustar, com a bicha sempre na trela com medo de ter de me atirar atras dela se ela caísse naquele tumulto. Outras vezes o som da água a seguir o seu rumo como uma festa pelo dorso da terra, sem pressa mas com a intensidade do tempo que se respira. à volta os pássaros na sua vida cheia de sons e livres das raízes que prendem ao chão. O som do crepitar da lareira a encher a escuridão que a noite instala, e que não contrariamos com luzes que se ligam em botões, ficamos a saborear lentamente essa escuridão dançada nas sombras do fogo. E depois a chuva, esse som a vários compassos, da miudinha, como que com medo de chegar ao chão, até à força de o querer pisar, bater nas janelas com protestos fortes antes de escorrerem devagar até ao chão.
Há algum tempo que não fazia destes meus tempos longe, para mim, sozinha. Neste fim de semana, entre as horas que entretive na cabeça, lembrei-me ou resumi-me, que por duas vezes já pensei que poderia não voltar a faze-los, não sozinha, mas em companhias que que me deixassem tão bem como sozinha. Sem medos de partilha, defesas ou outras vontades de fugir. Pensei que a vida fosse acontecer de forma diferente, por duas vezes. Por duas vezes percebi que não, e voltei aos meus dias sozinha, longe, na distância que me traz no colo e me devolve tempo e alma. Curiosamente desta vez só parte dos dias estive sozinha, outra parte estive com família. Cozinhei para eles, quase em troca de estadia e consegui enganá-los, repetiram sempre e quase não restava nada :) (também podia ser da fome...). Com tempo e vontade, se calhar, até isso conseguiria fazer de jeito, quem sabe... e sim, volto com a vontade redobrada - ou mesmo quadruplicada depois de três dias de trabalho - de arranjar um espaço para mim na distância suficiente que me afaste, mas não tanta que me impeça de fugir as vezes que me apetecer. Até fui ver um moinho à beira do rio para recuperar, mas é demasiado longe. Duas horas e meia de viagem para fugir e aproveitar é demais. E não é Alentejo... e eu tenho essa costela, parece-me.