segunda-feira, 22 de maio de 2017


[foto @gabrielerigon]


Enfio-me na cama outra vez. Acho que ela só deixa que me vá embora com a promessa de voltar em meia hora, o tempo de enfiar uma roupa levar a miúda, voltar, arrumar o stress desarrumador de cozinhas da canídea por ficar quinze minutos sozinha, limpar o que houver para limpar, comer qualquer coisa e desenfiar a roupa como quem engaveta começos sempre adiados. Volto, sem roupa, e encosto-me a ele, quase acabado de entrar na cama, mas já quente dele. Fico-me a olhá-lo e a sorri-lo, a pensar o que sonha, se me sonha também, se a vida dele também é minha.  Passo a ponta dos dedos por aquele pescoço, sempre adorei aquele pescoço, pendurar-me nele, encher de beijos, passear os lábios ou os dedos devagar... os dedos fogem com vagar para os ombros que começam os braços que, se acordados, quero à minha volta... sinto-lhe, por dentro dos dedos,  a pele e a perdição. Sinto saudades e sinto sentido. Na ponta dos dedos, nos sonhos, na cama, no encostar-me, na perdição e no adiar começos, porque aqui estou bem. Estou tão bem, mudar o quê, para quê? Começar o quê, se aqui cada instante é vida que não se quer mudada? Sair desta cama só quando tiver de ser, quando o dia for inadiável, quando as obrigações forem ditadoras. Mas vou com a promessa de voltar. Voltar para o calor, para esta pele, para este sonho que sonho antes de voltar a fechar os olhos por uns instantes e adiar este dia só mais um bocadinho. Fingir-te aqui só um sonho mais.

4 comentários:

  1. Sonhar é bom, é uma espécie de combustível da vida. Mas os tempos são de agir, com coragem, para os sonhos passarem a reais, e logo inventários novos sonhos. Falo por mim, claro. Cada caso é um caso.
    Beijinhos :)

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    1. hum... curioso, li o teu comentário e perguntei-me... combustível? então temos de os queimar para andar?? Deve ser isso que eu ando a fazer mal, é que não os queimo, queimam-nos por mim; então quem os queima anda para a frente, já eu acho que fico a ver arder. Depois fiquei-me a magicar... há sonhos fininhos como o papel de seda, o fogo fá-los subir no ar e desfazer-se, os meus acho que são tipo lista telefónica das mais antigas (até a a imagem é boa, porque já não há, já não se usam...),. até custa a pegar fogo e depois arde mais devagar. Mas gaita hão-de arder!! ;))
      beijo :)

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  2. adoro a imagem, Olvido.
    boa semana, beijinho

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