sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


[foto ©Gerhard Richter]

As horas despem-se devagar da luz e sobre os meus ombros desce a noite como um manto que me despe do mundo. É no calor desse aconchego de nudez que me encontro, que desço o olhar para dentro, que me abraço de silêncio e dou colo à solidão - tão sozinha e calada todo o dia, à espera que eu chegue, e eu chego, retorno sempre aonde me sinto em casa. Eu, tu e a solidão. Todos. Todos voltam para onde se sentem em casa - para o sítio onde somos casa. Onde a pele é a parede que o mundo só vê por fora e nós olhamos por dentro, onde o sangue é fundação em que nos vamos formando e (re)construindo, onde o coração é albergue de todos os que não esquecemos e espaço para todos os que virão para ficar. Todos os que sejam razão para chegarmos a casa. Para sermos casa.

6 comentários:

  1. eu ainda ando à procura da minha... :)

    bom fim-de-semana, vi. :)

    deixo-te um beijo. :)

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  2. cá em casa quem me espera é sempre a fome e a preguiça... assim que entro em casa, elas agitam as caudas felizes por me verem :)

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  3. deixa a solidão adormecer devagarinho no teu colo... depois coloca-a suavemente num recanto macio do teu coração...
    emocionante texto, minha doce
    beijinho

    nanda

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  4. Manel,
    Aqui não me esperam fome e preguiça, eu trago-as... :) então a ti se te esperam se não fores para casa não tens fome nem preguiça... Olha que sorte. Comigo não funciona assim...

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  5. Nanda,
    Às vezes consigo adormecer a solidão, mas já não encontro nenhum recanto macio do meu coração para a guardar... Está sempre a acordar e à minha espera. Acho que pertencemos uma à outra. Somos cada uma da outra...

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  6. Alaska,
    Andas à procura da tua casa?... se é isso é bom, mau é tê-la encontrado e depois perdê-la, como um sem-abrigo de vida, em que o único abrigo é mesmo a solidão que se torna parte de nós.

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